quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Entrevista a Carlos Freitas

Carlos Freitas, concedeu ao DN uma entrevista bastante interessante. No decorrer da entrevista, Carlos Freitas esclarece algumas duvidas, mas também deixa algumas respostas enigmáticas que levantam outras tantas. Aqui ficam as partes referentes ao Sporting. 
(...)
DN - Nunca foi uma figura pacífica para os adeptos. ..
CF - É normal que não tenha sido. Nunca foi minha preocupação agradar a todos. Não quero ser unânime.
DN - André Cruz, Rochemback, Enakarhire, Jardel, Liedson foram contratações elogiadas, mas também houve falhanços – Bueno, Alecsandro, Paredes, Farnerud e outros. Que quota de responsabilidade assume?
CF - Enquanto estive no Sporting não houve um único processo de transferência a que fosse alheio. Mas todas elas processaram-se num círculo fechado, composto por mim, por um administrativo e pelo treinador, que foram sempre co-responsáveis. Sobre essas e outras contratações, o Sporting viveu comigo a melhor fase desde o período dos cinco violinos. Quer em termos de futebol jogado quer em termos de títulos ganhos. Isso das más e das boas contratações é relativo. Alguns jogadores podem falhar num clube ou num país e ter grande sucesso noutro. Depende do enquadramento. O Bueno, por exemplo, triunfou na Real Sociedad, o Pinilla no Palermo. O que sucede é que no Sporting nunca existiu a liberdade financeira do FC Porto ou do Benfica. Quando tivemos, contratámos o Jardel.
DN - Porque falharam esses jogadores no Sporting?
CF - Ao menor erro foram considerados pelos adeptos insucessos rotundos. "Porque não vão buscar os da academia?", ouvi muitas vezes. A resposta é simples; nem sempre na Academia havia melhor. É verdade que o Pinilla teve dificuldades com Peseiro, mas os três golos que marcou em Braga podiam lançá-lo. Sucede que se lesionou. O mesmo aconteceu com o Bueno, no tempo de Paulo Bento.
DN - Talvez o caso mais emblemático – muito custo para pouco benefício – foi o de Rodrigo Tello.
CF - Raramente vi um jogador com tanto potencial. Com Tello fiquei completamente convencido. E não foi o jogador mais caro da história do Sporting. O Tello custou sete milhões e 50% do passe do Quiroga, cinco milhões.
DN - Chega ao Sporting em 1999 e sai em 2005 em conflito com Dias da Cunha e com o treinador. Peseiro acusou-o de ter tentado desestabilizar um jogador nas vésperas de um jogo.
CF - Esse assunto foi esclarecido, mais tarde, entre os dois. Foram imputações falsas. Aliás, de todos os treinadores com quem trabalhei só um terá motivos para dizer que não terei sido totalmente elegante. Chama-se Fernando Santos. Aproveito para pedir-lhe desculpas públicas. Quanto a todos os outros não há um gesto de que tenha de me penitenciar.
DN - Nem relativamente a Dias da Cunha?
CF - Foi meu presidente, tivemos uma diferença de opinião – ele entendeu que tínhamos condições para continuar, eu entendi que não tinha. Foi uma decisão pessoal.
DN - Uma decisão pessoal, ou parte de um concerto entre várias figuras do Sporting, entre elas Ribeiro Telles e Filipe Soares Franco, que visava fazer cair Peseiro, o administrador Paulo de Andrade, com quem assumiu internamente um diferendo, e o próprio presidente?
CF - Saí apenas por motivos desportivos. Não houve qualquer complot.
DN - Seis anos depois da chegada, esses foram momentos de desilusão?
CF - No final de 2005 vivi uma semana pesada. Perdemos o campeonato na Luz, a final da Taça UEFA em Portugal e o acesso à pré-eliminatória da Champions. Foram três socos muito violentos que me levaram a essa decisão. Foi a minha semana mais negra no Sporting.
DN - Que peso teve para si a não renovação dos contratos de Pedro Barbosa e Rui Jorge?
CF - Não teve peso porque saí antes de a decisão se concretizar. Aliás, quem ficou, e não vou dizer se era dirigente ou treinador, defendia que Barbosa devia continuar.
DN - Passados poucos meses regressa, a convite de Soares Franco.
Volta com a convicção de que poderia renovar o título nacional?
CF - Voltei, sobretudo, com imenso prazer, de poder apadrinhar a estreia de um treinador que conhecia bem.
DN - E lançou Paulo Bento.
CF - Limitei-me a defender o nome dele, a dizer que sim, era a minha aposta.
DN - Não voltou a ser campeão. O que falhou? E quem falhou?
CF - É verdade, não fomos capazes de ser campeões. Nunca conseguimos descolar. Houve sempre um adversário mais forte, se bem que em 2006/2007 aquela derrota com P. Ferreira tenha sido decisiva.
DN - Nessa época foi a arbitragem que tirou o título ao Sporting?
CF - Provocou um prejuízo directo.
DN - O Sporting tinha equipa para ser campeão ou partiram com o objectivo de segurar o 2.º lugar?
CF - Acreditámos que o título era possível, quer em 2005/2006 quer na época seguinte, e a prova é que lutámos pelo campeonato até ao fim.
DN - O Sporting não ganhou, mas recebeu um prémio pecuniário, contestado pelos adeptos…
CF - Recebi o que estava consignado em contrato. A negociação foi feita de boa-fé e é prévia à conquista desse prémio.
DN - Não foi apanhado de surpresa por essas críticas…
CF - Não, sei identificar os amigos.
DN - Está ligado a todos os títulos que o Sporting conquistou desde 1999. Há um Sporting com Carlos Freitas e um Sporting sem Carlos Freitas?
CF - Nunca avaliei isso. Eu confiava nos que lá estavam. Confiava muito em Paulo Bento.
DN - Apesar disso, demitiu-se em 2008…
CF - Senti que a ideia que passava era que o Sporting gastava à toa e por culpa do Freitas.
DN - Tem uma explicação para isso?
CF - Tenho, mas ainda é muito cedo para fazer balanços de carreira.
DN - Nessa fase, qual foi a altura de maior pressão?
CF - Após a derrota do Sporting em Braga por 3-0 e na semana do Estoril-Sporting.
DN - Demitiu-se e ainda hoje Ribeiro Telles, diz que não lhe perdoa…
CF - É verdade, ainda hoje ele diz isso.
DN - Paulo Bento deveria ter saído consigo?
CF - Não. Aliás, e de acordo com o próprio, ele esteve apenas quatro meses a mais no Sporting. Quando saí ele tinha todas as condições para continuar. Conquistou de novo o segundo lugar que era um objectivo financeiro importante.
DN - Consigo no Sporting, Paulo Bento não deixaria o clube sem antes conquistar o campeonato?
CF - Não posso dizer que sim. O Paulo Bento fez um trabalho importante, foi sempre solidário com as dificuldades financeiras, nunca carpiu mágoas.
DN - As mágoas principais?
CF - Os jogadores, ainda antes de jogar, já eram enormes fiascos.
DN - A maior injustiça?
CF - Ataques à idoneidade, muitas vezes sob anonimato.
DN - Algum arrependimento?
CF - Tenho consciência de que a função que exerço desde 1999 se presta a um sem-número de comentários e a muitas críticas. Não fiz tudo bem, algumas das contratações que fiz não as voltaria a fazer mas as críticas ajudaram-me a melhorar.
DN - Que balanço faz da passagem de Pedro Barbosa e Sá Pinto pelo Sporting na qualidade de dirigentes?
CF - Pedro Barbosa deparou-se com condicionantes financeiras que obrigam a que boas ideias fiquem pelo caminho. Quanto ao Ricardo, é uma pessoa especial, abraçou o desafio com a melhor das intenções, mas teve um momento difícil.
(......)
DN - A contratação de que mais se orgulha?
CF - O Liedson, atendendo ao que custou e o rendimento que tem tido.
DN - A que mais o desiludiu?
CF - Não está em causa a pessoa, que é excelente. O Paredes.
DN - A que lhe ficou entalada?
CF - Quando o Cristiano saiu, pensou contratar-se o Nilmar e o Daniel Carvalho, mas não foi possível.
DN - E dos dirigentes?
CF - A impulsividade de Luís Duque, a nobreza de Ribeiro -Telles, o gentleman que é Filipe Soares Franco e o presidente que viria a revelar-se. José Eduardo Bettencourt ajudou–me bastante porque me obrigou a olhar para as contas, e a ambição desmedida de Salvador para quem os jogos são todos para ganhar.
DN - Os treinadores…
CF - Bölöni foi muito importante para a criação de uma matriz formativa, Paulo Bento, pela relação muito forte com os jogadores, Jorge Jesus, um grande treinador e Domingos a quem auguro um grande futuro. Em termos de espectacularidade de futebol jogado destaco José Peseiro.

Alexandra Tavares Teles, para DN

4 comentários:

Leão da Moita disse...

Boa entrevista de Carlos Freitas. Gostava dele. Apesar de volta e meia nos presentear com uns pernas de pau, a verdade é que com ele, o Sporting teve sempre equipas competitivas.

Carlos Freitas deixa também no ar... ali entre linhas, que o Sporting na sua altura era um autentico ninho de viboras.

Eu, que não gosto de JEB, começo a admitir... o homem está a tentar fazer um bom trabalho. Está a mexer na merda, e isso tem tendencia para cheirar mal.

É um trabalho que tem de ser feito, espero que não lhe faltem os tomates a meio caminho...

Sporting Sempre!

Leão da Moita

Anónimo disse...

Acho que ao Carlos Freitas faltou um pouco de humildade! O Bueno e o Pinilla (entre outros) foram efectivamente flops, ponto final. Nao custava muito assumir esses erros. Para mais diz que o pinilla brilhou no Palermo!!! Vamos ver! Ele brilhou foi no grande grossetto, vamos ver se calca no palermo!!
Parece-me que este ano (mesmo incluindo janeiro)tambem se esta a fazer boas compras sem o CFreitas - Mendes, pereira, evaldo, maniche, valdes. E a ver vamos o que e que zapater, NAC, torsi, e salomao poderao fazer - ja o Pingolle ...
Ja agora NV, comecam a haver boatos blogosfericos que o Purovic deveria ser o homem golo! Espero que nao tenhas um ataque de coracao com esta "noticia".

Nelson Vicente disse...

Caro Leão da Moita,

Eu também tenho vindo a aumentar a minha confiança em JEB. Sinto que o homem é sportinguista como qualquer um de nós. Tenho bem gravado na minha memória a entrada dele em campo para travar a invasão de campo da claque após golo do Geovani... É um dos nossos... bom ou mau... Apoiemos... e certamente terá mais possibilidades de fazer melhor.

Não deixo no entanto de destacar aqui um pormenor nesta entrevista.

Quando CF se refere ao FSF, diz: "o gentleman que é Filipe Soares Franco e o presidente que viria a revelar-se."

Quando se refere Salvador diz: "...a ambição desmedida de Salvador para quem os jogos são todos para ganhar."

Está aqui, escarrapachada nesta entrevista, o que nos diferencia ou tem diferenciado dos adversários. Somos todos bons rapazes... enquanto do outro lado, é tudo uma espécie de guerreiros.

Temos de mudar isto... e estamos a mudar. Costinha, foi para mim o melhor reforço que poderiamos ter. O homem pode falhar algumas vezes... vai acertar outras... mas uma coisa tenho a certeza, as suas decisões e acções vão ser sempre no sentido de o SCP ganhar... não para ficar em segundo.

SL

Nelson Vicente disse...

Amigo jalmeida22,

Nem me fales no Purovic que ainda me dá uma coisinha má... acho-o um péssimo jogador. A sua unica vantagem seria a altura... mas nem nesse capitulo o homem consegue dar uso em prol do colectivo. foi um erro de casting... claramente.

Quanto aos reforços, penso que ainda não falhamos nenhum. Incluo Zapater, NAC, Salomão e Torsiglieri no mesmo rol de Valdés, Maniche e afins...

Apenas algumas reservas para Pongolle (ou Pingolle, ehehe)... mas não pela sua qualidade, que a tem... mas na nossa capacidade de fazer o rapaz exteriorizar todo o seu potencial... Estamos em processo de mudança... não temos tempo para trabalho de paninhos quentes. Espero que ele, bem ou mal, se consiga endireitar. Precisa urgentemente de recuperar os indices de confiança, só isso... tal como a maioria dos sportinguistas!

Grande abraço

SL